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Mostrando postagens de abril, 2016

Quem nos vê?

Morreu outra negra Amava outra mulher Se vestia como queria Era seu direito É o nosso direito Mas a casa grande ainda cumpre aquele dever Aquele devir de não nos deixar ir Ela cobra com sangue a raiva que tem da nossa liberdade Ela cobra com a vida, a nossa fragilidade Morreu outra mulher negra e pobre Não há comoção Não há jornais Nem pessoas mudando a foto de perfil Essa luta não as pertence E você ainda quer que eu não seja hostil? Você ajuda a tirar a minha vida A limitar meus passos Aumentar minha ferida Mas essa luta não é sua Essa cor só te pertence em fantasia Ou na falsidade de ver-se como desconstruida Você não ama meu corpo negro Pra você não faz diferença Eu tenho que ignorar anos de sobrevivência em prol do seu achismo igualitário? Tenho que me calar, diante do seu ditado atrasado "o racismo está nos olhos de quem vê" Pena que você sempre está de olhos vendados para o meu ser. Em memória de Luana Barbosa

Buraco negro

Todo o tempo ocioso, torna-se um momento de refletir, agradecer, odiar e não perecer. Em meio às distrações que meus familiares e amigos tentam criar sob mim, ainda paira em cada silêncio das madrugadas de insônia, o sentimento de tempo perdido e a máxima relutando em minha mente sobre "ainda ser jovem". Nunca gostei de depender do tempo. "El tiempo no me mueve, yo me muevo con el tiempo." Estava pensando sobre os sonhos e, especialmente, os sonhos que quero lograr: porque ainda é tão caro cada mínima parcela que alcanço em minha vida? Para algumas pessoas, tudo parece tão barato, tão fácil, tão acessível, tão leve. As vezes eu esqueço que, mesmo não levando malas, eu  carrego uma bagagem inscrita em meu dna. Está na minha cara, nos meus pés, no meu cabelo, mas, principalmente, no meu coração. Eu não me sinto cansada de carregar tudo isso, eu só sinto dor nas vistas, nos ouvidos, nas pernas que, dessa vez, me impeliram à fugir daquilo que eu não tinha dimensão e

Golpe de estado

A professora falou que a democracia Era algo pra gente comemorar todos os dias Ela só não mencionava que aquela mão que votava, não pensava Agia por $impatia E a gente se revoltava A gente chorava E não entendia nada do que se passava A urna foi vandalizada Não choraram por ela Não choraram pelos votos confiados Nem os comprados Nem os usurpados A deriva como rato no barco Rato que se aninha na sujeira do Plenário.

Você e eu

Daquelas que te deixam insegura Que te fazem esquecer todas as experiências passadas Que no instante que ela te toma, ela recria todas as suas necessidades E prescreve dentro de você as preferências que suas mãos aguçam por tocar O gosto que sua boca deseja provar E a imagem que todos os dias seus olhos desejam despir Essas que colorem Te preenchem Te tomam E levam todo o mal, mas não trazem a saciedade Nem desenlace Essas que você não pode segurar Não pode esperar Não pode se entregar Essas que te roubam o equilíbrio Te expelem pelo limbo E depois te libertam quando ela se saciar Essas sádicas Doces e problemáticas Paradoxo de amor pra minha metáfora se tornar clamor. Descrição de sua personalidade Ou descrição do que sou?