Paro

Em campo minado eu não caminho mais
Desde que perdi meus pés de plomo e me deixaram de mãos atadas 
Que avalio bem o sendero antes de dizer o que me satisfaz 
Deixo as uvas verdes amadurecerem 
Deixo eles pensarem e até serem
Os furtivos algozes de minhas posições 
Ventri-cu-lo como Pinóquio, 
Como se fossem meus donos 
Numa disfarçatez que só quem se escondeu de monstros para sobreviver, sabe fazer
Os deixo pensar que são condutores
Mas eu que sou a rua
Controlo o ritmo
Controlo a curva
Escorrego em água
Sou sagacidade crua
Escoo em estrada
Me torno rodovia
Viro pista de arremate de meus próprios impulsos
Faço do luto lúdico
Pois a felicidade, nessa vida,
A adjetivo de traiçoeira
Cobra de duas cabeças
Te pica e te rateia
E em veneno, nada se cura
Vou no meu tempo
Respeito minhas amarguras
Até que meu campo se recupere e floresça
Há várias de mim
E nenhuma delas usa a complacência
Como forma de te agradar

É só pra me preservar: 

Do meu modo lagarta-casulo-seda
E não espero que ninguém entenda
Que coloco as armas e mesmo atiro
Que das armadilhas eu olho e sorrio
Por toda dissimulação do cenário que me fiz antagonizar

Só pra me desgastar.



Huelga de mí misma

Almenara. 17/04/2024

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