Arde como Lima

Mais da metade da minha força eles tomaram
Não pediram, não avisaram
Chegaram e me derrubaram
Passaram uma rasteira na minha confiança
Cuspiram na minha auto-estima
Violaram meu idioma

Levaram o pouco que eu sorria
O sonho a ser conquistado
Os séculos para a libertação do meu povo escravizado

Com uma ordem só
Travaram-me com um nó
Que ainda está preso na minha garganta

Calaram minhas vitórias
Menosprezaram minha história
Me barraram de alcançar mais glórias

O portão fecha na minha cara
Mas abriu uma ferida crônica na alma
O descaso aturdiu minha esperança
Talhou meu sangue como veneno
E corre latejando pelos meus pés
Que se arrastaram de volta ao meu país

- Mas não era isso que você sempre quis?
Como eu desejaria ser intrusa no mundo?
Como alguém saberia que a cor é um passaporte
No filtro social que o preconceito impõe?
Como eu acreditaria
Que para ser cidadã do mundo
só o meu conhecimento não bastaria?

A noite é uma insônia
E o dia é sagacidade de incerteza
Perdi o rumo e minha destreza
Intoxicada e liberta através do silêncio
Mas o coração explode o que penso
E as mãos vagueiam algo que possa esquecer
Voltar a sorrir
Voltar a viver
Pois a luta só termina quando o alvo perecer.

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